terça-feira, 30 de março de 2010

Civilização Romana.

Pessoal desculpem mas não deu pra postar mais cedo...quer dizer to tentando aqui!






Da Monarquia à República
Roma: fundamentos


Principais períodos da história de Roma. Situada na planície do Lácio, às margens do rio Tibre e próxima ao litoral (mar Tirreno), a cidade de Roma originou-se a partir da fusão de dois povos: os latinos e os sabinos. Inicialmente uma aldeia pequena e pobre, numa data difícil de precisar Roma foi conquistada pelos seus vizinhos do norte, os etruscos, que dela fizeram uma verdadeira cidade. Os romanos eram também vizinhos dos gregos, que, ao sul, haviam criado a chamada Magna Grécia, onde habitavam desde a época da fundação de Roma.
Dos etruscos e dos gregos os romanos receberam importantes influências e, com base nelas, elaboraram a sua própria civilização.

A sociedade romana, como a grega, é exemplo de sociedade escravista, embora difira desta em alguns aspectos fundamentais. O processo de concentração de terras pela aristocracia patrícia jamais foi bloqueado, e o poder e a influência daquela camada social permaneceram praticamente inalterados até o fim.

O elemento central da grande estabilidade desfrutada por Roma foi a instituição do latifúndio escravista, que, estabelecido ali numa escala desconhecida pelos gregos, proporcionou aos patrícios o controle sobre os rumos da sociedade. À solidez econômica e política da situação dos patrícios somou-se o talento militar dos romanos, que fez de Roma, uma cidade-Estado, a sede de um poderoso império.
Como os gregos, os romanos iniciaram sua história sob o regime monárquico (fundado por Rômulo, segundo a lenda), experimentaram a república e terminaram os seus dias sob o domínio de um império universal despótico e muito parecido com os modelos orientais.

Monarquia (753 - 509 a.C.),
República (509 - 27 a.C.) e
Império (27 a.C.- 476 d.C.)

são os três períodos em que se costuma dividir a história de Roma. O período do Império, por sua vez, é subdividido em Alto Império e Baixo Império. O Alto Império (27 a.C.- 235 d.C.) é a fase em que esteve em vigor o regime político do principado. O Baixo Império (235-476), o regime político do dominato.

Monarquia

1. Patrícios e plebeus. Desde o tempo da Monarquia, a sociedade romana encontrava-se dividida em patrícios e plebeus. Os patrícios pertenciam à camada superior da sociedade, e os plebeus, à camada inferior. O que distinguia a ambos era a gens uma instituição análoga ao genos grego. Somente os patrícios pertenciam às gentes (plural de gens). Uma gens congregava os indivíduos que descendiam, pela linha masculina, de um antepassado comum. Portanto, a gens nada mais era do que família em sentido amplo. Em outras palavras, gens era o nome que os romanos davam àquilo que conhecemos como clã. E, como qualquer clã, a gens era composta de várias famílias individuais. Uma gens distinguia-se de outra pelo nome: gens Lívia, gens Fábia, etc. e todos os seus membros traziam o nome da gens. O nome dos patrícios era composto de três elementos: o prenome, o nome gentílico, ou da gens, e o cognome ou designação especial, uma espécie de apelido. Exemplos: Lúcio Cornélio Sila, Caio Júlio César, etc. Quer dizer: Sila era membro da gens Cornélia, e César, da gens Júlia.
Com a conquista etrusca de Roma e ao longo do governo dos três últimos reis etruscos, a desigualdade entre patrícios e plebeus se aprofundou. Os patrícios não cessavam de ampliar o seu poder com o recrutamento de clientes. Essa palavra, para nós sinônimo de “freguês”, designava, para os romanos, um conjunto de dependentes que, em troca de lealdade e serviços, recebia favores das famílias patrícias. A clientela formava uma categoria social especial de agregados dessas famílias, cuja origem parece não ser a mesma dos plebeus. Primitivamente, clientes e plebeus eram duas categorias diferentes que acabaram, com o tempo, fundindo-se numa só, como veremos adiante. Toda grande família patrícia tinha a sua clientela.

Em 479 a.C., a gens Fábia, por exemplo, era constituída por 306 membros e tinha de 4 a 5 mil clientes. Porém, por volta do ano 100 a.C., era freqüente plebeus se dizerem clientes de uma família rica para receber dela algum amparo. Como categoria social, os plebeus continuaram sendo os que não pertenciam a nenhuma gens.




A fundação da República

1. A reorganização dos poderes na República. Vitoriosos, os patrícios fizeram algumas modificações nas instituições de poder. O Senado e os comícios curiatos e centuriatos permaneceram como estavam. Mas o poder antes exercido pelo rei foi dividido e entregue a dois cônsules, que permaneciam apenas um ano no cargo. Desse modo, os patrícios tentaram eliminar o risco de retorno da Monarquia.

2. A conquista dos plebeus. As principais instituições políticas da República eram, portanto, o Senado, a magistratura (desempenhada pelos cônsules) e os comícios curiatos e centuriatos. Mas somente os patrícios podiam ser senadores, cônsules e membros dos comícios curiatos. Os plebeus tinham acesso unicamente aos comícios centuriatos, criados por Sérvio Túlio. Nessas assembléias tinham direito de participação todos os cidadãos que serviam ao exército, o que incluía tanto plebeus quanto patrícios. Os plebeus tinham, assim, uma participação ínfima na vida política romana. Por isso, nos duzentos anos seguintes à criação da República, eles lutaram insistentemente pela ampliação de seus direitos.

Os plebeus não eram, entretanto, um grupo social homogêneo. Embora a maioria fosse pobre, existiam plebeus muito ricos. Na luta contra os patrícios, enquanto os pobres exigiam leis escritas, abolição da escravidão por dívidas e distribuição de terras, os ricos reclamavam uma lei que permitisse o casamento entre patrícios e plebeus e o acesso às magistraturas. Ao longo de duzentos anos, com muita luta, os plebeus atingiram seus objetivos. O primeiro passo foi a conquista de um órgão político de defesa de seus interesses, o tribunato da plebe. Essa conquista ocorreu depois que os plebeus ameaçaram criar, em 494 a. C ., uma sociedade plebéia separada da dos patrícios, nas vizinhanças de Roma.

Os tribunos da plebe, a princípio dois e mais tarde dez, eram considerados sacrossantos, isto é, invioláveis. Fazer ameaças ou resistir a eles pela força era considerado um sacrilégio. Os tribunos tinham o direito de intercessio, o que significava poder socorrer o cidadão ameaçado por um magistrado e interceder para anular atos ou decisões que julgassem prejudiciais aos plebeus. Podiam também reunir a assembléia da plebe e fazer votar o plebiscito, que tinha o valor de lei para os plebeus. Por volta de 450 a.C., depois de uma revolta plebéia, uma comissão de dez membros (decênviros) publicou pela primeira vez um código de leis válido para todos a.

Em 445 a.C., com a Lei de Canuleio, foi autorizada a união matrimonial entre patrícios e plebeus. Mas no ano seguinte, com o fim de impedir que os plebeus conseguissem o direito de se tornar cônsules, essa magistratura foi abolida pelos patrícios.

O consulado, entretanto, foi restabelecido em 366 a.C., e o acesso a ele foi permitido aos plebeus pelas Leis de Licínio e Sextio, ambos tribunos da plebe. Foram ainda criadas duas novas magistraturas (funções políticas) – a dos pretores e a dos censores –, reservadas com exclusividade aos patrícios e às quais foi transferida parte dos poderes do antigo consulado. Os plebeus, contudo, continuaram sua luta, exigindo acesso a todas as magistraturas, o que lhes foi concedido em 300 a.C. Por fim, em 286 a.C., através da Lei Hortênsia, os plebiscitos tornaram-se leis válidas também para os patrícios. A partir de então passou a ocorrer o comício das tribos ou assembléia tribal, com a participação de patrícios e plebeus. Em 326 a.C., outra medida importante abolira a escravidão por dívidas que pesava sobre os plebeus empobrecidos.

3. As instituições políticas da República. Apresentamos a seguir um esquema dos principais órgãos de governo, das relações que mantinham entre si e de seu funcionamento. Em seguida, descreveremos as funções de cada um.


Os comícios elegiam os magistrados. Estes ingressavam no Senado, após cumprir o mandato de magistrado. O Senado aconselhava os magistrados. Senatus consultum (“decreto”) era o nome dado às decisões do Senado. Além de reunir e presidir os comícios, os magistrados propunham as leis, que os comícios votavam. Os comícios ou assembléias curiatas, reunidos por cúrias, segundo a tradicional organização gentílica, tornaram-se meras formalidades em meados do século III (250 a.C.). Também perderam força os comícios centuriatos. Ao longo do tempo destacou-se o comício das tribos ou assembléia tribal.



Transformações econômicas e sociais

1. A primitiva economia romana. A palavra pecúnia significa, em latim, “riqueza”, e é derivada de pecus (“gado”) . Essa constatação levou os historiadores a deduzirem que os romanos foram primitivamente criadores de gado, antes de, sob a influência dos gregos e principalmente dos etruscos, terem se convertido em agricultores. Quando República foi fundada, em 509 a.C., a agricultura, baseada na policultura, era praticada em propriedades familiais, juntamente com o artesanato. A produção destinava-se ao auto-abastecimento, havendo aquisições ocasionais, por compra, de ferramentas de metais.

2. O expansionismo no tempo da República. No início da República, nada distinguia Roma de outras sociedades antigas. Mas, aos poucos, ela foi se destacando como potência militar. Esse processo começou com guerras defensivas, travadas contra os vizinhos que cobiçavam seus produtos e suas terras. Gradualmente essas guerras se converteram em guerras de conquista, até que, em 272 a.C., depois de duzentos anos de luta, toda a Península Itálica ficou finalmente sob dominação romana.
Com a conquista e a unificação da Península Itálica, Roma se transformou numa respeitável potência. O problema é que o seu território passou a fazer fronteira com Cartago, outra grande e temível potência da época.

Cartago era uma cidade de origem fenícia (punicus, em latim), situada no norte da África. Contra ela, entre os anos 264 e 146 a.C., Roma travou três guerras, na segunda das quais teve que enfrentar o lendário general cartaginês Aníbal. Esses confrontos ficaram conhecidos como Guerras Púnicas, e os romanos venceram todos eles.
A vitória contra Cartago possibilitou a Roma o domínio das ilhas de Sardenha, Córsega e Sicília, além da Espanha e do norte da África.
Roma não parou mais de se expandir depois disso. Voltou os olhos para o Leste, onde conquistou o reino macedônico da Grécia, e levou a guerra até o mar Negro, onde reinava Mitridate, um formidável opositor, que resistiu aos romanos por mais de vinte anos, até ser derrotado, em 66 a.C.

3. O ager publicus. Com as conquistas, tanto a economia quanto a sociedade romana foram se transformando. Até 202 a.C., quando terminou a Segunda Guerra Púnica, Roma ainda não havia se voltado para o Oriente. Naquele momento, os domínios romanos limitavam-se ao Ocidente, que, em comparação com o Oriente Helenístico (antigo domínio de Alexandre Magno), era pouco desenvolvido e muito pobre. Mas os povos do Ocidente Itália, sul da Gália e parte da Espanha tinham uma riqueza que despertava a cobiça dos patrícios: terras. Essas terras foram confiscadas e convertidas em terras públicas (ager publicus). Apesar de públicas, foram vendidas ou arrendadas aos patrícios os únicos que, na prática, tinham acesso a elas. Foi justamente essa privatização das terras públicas que impulsionou o processo de concentração de terras nas mãos dos patrícios.

Esse processo jamais teve seu desenvolvimento bloqueado em Roma, diferentemente do que ocorreu na Grécia, onde as maiores extensões iam de 12 a 24 hectares. Os latifúndios romanos eram freqüentemente superiores a 120 hectares. Houve os que chegaram a atingir 1.200 e até mesmo 80.000 hectares. A maioria dos latifúndios, entretanto, não era constituída por terras contínuas, mas por terras dispersas, situadas em regiões diferentes.

Mas não foram apenas as terras conquistadas aos povos do Ocidente que fizeram a fortuna e o poder dos patrícios. Com a conquista do Oriente e a imposição da administração romana, um imenso volume de dinheiro começou a fluir para as mãos dos patrícios e para os cofres do Estado, a ponto de este se dar ao luxo de abrir mão do imposto fundiário e do tributam cobrado do povo em tempo de guerra.

4. Latifúndio e escravidão. Contudo, a transformação crucial do período foi a constituição do escravismo. Trazidos do Ocidente e do Oriente, os escravos tornaram-se a principal mão-de-obra, tanto na agricultura quanto no artesanato, como já havia ocorrido na Grécia. Mas a grande originalidade de Roma foi a combinação inédita de latifúndio e escravidão. Em comparação com o escravismo grego, o romano mostrou-se muito mais amplo e profundo, atingindo um número surpreendente de pessoas, proporcionalmente ao de pessoas livres:

• em 225 a.C., para 4 milhões e quatrocentos mil homens livres, havia 60 mil escravos;
• em 43 a.C., para 4 milhões e quinhentos mil homens livres, havia 3 milhões de escravos.
Nunca a Antiguidade tinha visto algo semelhante.

5. O impacto das conquistas sobre os plebeus. Para os plebeus, o expansionismo romano teve conseqüências funestas: quanto mais a República triunfava no exterior, mais os plebeus se arruinavam em Roma. Na realidade, a expansão romana prejudicou os plebeus de vários modos.

As guerras, ao mobilizarem constantemente os pequenos e médios proprietários plebeus (os assidui), provocaram a sua ruína. Os que não pereciam na guerra, ao retornar não tinham meios para retomar as suas atividades, pois não recebiam nenhum tipo de compensação pelos serviços prestados ao Estado, não sendo levado em conta nem mesmo o fato de que a eles se devia o êxito romano no exterior.

O expansionismo romano prejudicou os plebeus ainda de outro modo, em razão de um processo muito semelhante ao que ocorrera na Grécia. Com a importação maciça de trigo das províncias sicilianas e norte-africanas, o preço do produto despencou em Roma. Os pequenos e médios proprietários não tinham como concorrer com o baixo preço do trigo importado e logo ficaram sem meios para saldar as dívidas contraídas e prover o próprio sustento. Em geral acabavam perdendo as suas terras para os credores patrícios.

Os patrícios também foram atingidos pela entrada do trigo das províncias. Mas eles enfrentaram essa nova situação fazendo a reconversão das culturas: abandonaram o cultivo de cereais e se especializaram na plantação da vinha e da oliveira e na produção de vinho e azeite de oliva, além de árvores frutíferas.
Essa reconversão não estava ao alcance dos pequenos e médios proprietários, em virtude do tempo de maturação exigido pela nova cultura até as primeiras colheitas. Era necessário dispor de recursos para esperar o retorno do investimento feito na nova plantação.

Enquanto os patrícios dispunham de recursos para suportar a espera, aos plebeus estavam reservados destinos trágicos. Com os latifúndios sendo trabalhados por uma numerosa escravaria e 90% do artesanato sendo exercido por escravos, o campo de trabalho para eles havia se reduzido drasticamente. Arruinados pela guerra, pela importação do trigo, pelo latifúndio escravista, os plebeus foram forçados a abandonar o campo e migrar para as cidades, onde engrossaram as fileiras da plebe urbana, sem propriedade e sem trabalho.

6. A plebe urbana. A plebe urbana, ociosa, tinha como único meio de sobrevivência colocar-se sob a proteção das grandes e ricas famílias, transformando-se em sua clientela. Toda manhã, dirigia-se à casa de seus patronos para receber mantimentos e algum dinheiro. Depois aguardava a distribuição de trigo feita pelo Estado, a baixo preço.

Para manter a plebe sob controle, o Estado oferecia também, além do trigo, espetáculos circenses. Submetida a essa política do pão e circo (panem et circenses), a plebe urbana, desocupada e desmoralizada, perdeu toda a vontade de retornar ao campo e passou a ser um dócil instrumento nas mãos de nobres ambiciosos. Para os patrícios, praticar essa política era cômodo e custava menos que distribuir terras. A distribuição de terras era evitada porque se temia que sua posse pudesse devolver aos plebeus a antiga condição de assidui, não desejada devido ao senso cívico e participativo que lhes era próprio. Esse era um problema que os patrícios tudo faziam para contornar.

7. A nobreza senatorial. Enquanto o escravismo se impunha e a condição da plebe se degradava, ocorriam também transformações no estrato superior da sociedade romana.
No início da República, pertenciam ao estrato superior da sociedade apenas os membros das gentes – a nobreza gentílica. No final da República, existiam 47 dessas famílias patrícias tradicionais. Porém, no decurso da República, havia ocorrido um importante fenômeno em Roma: a ampliação da nobreza. Ao lado da tradicional nobreza gentílica, haviam surgido novas famílias de nobres, cujos membros eram os nobilitas. A conquista dessa posição devia-se ao fato de os chefes de algumas famílias plebéias terem pertencido ao Senado. Naturalmente, tratava-se de famílias plebéias bastante ricas. Com o tempo, a tradicional nobreza gentílica fundiu-se com a nova, dando origem à nobreza senatorial.

Desde o ano 366 a.C., quando o acesso ao Consulado foi aberto aos plebeus, teoricamente o ingresso à condição nobiliárquica ficou possibilitado a todos, pois os cônsules tornavam-se automaticamente membros do Senado. Mas, na prática, a nova nobreza senatorial fechou e impediu o acesso aos altos cargos da magistratura aos membros não pertencentes ao seu grupo. De 200 a.C. a 146 a.C., apenas três não integrantes da nobreza senatorial conseguiram a proeza de penetrar no fechado círculo daquela aristocracia.

8. Os cavaleiros e os homens novos. Os antigos e novos membros que compunham a nobreza senatorial monopolizavam as altas magistraturas e se apropriavam dos altos cargos militares e dos governos provinciais. Tinham a terra como base de sua riqueza e detinham uma fortuna em imóveis.

A sombra do fortalecimento da nobreza senatorial, fez também fortuna considerável um pequeno número de famílias plebéias ligadas ao mundo dos negócios. Essas famílias se enriqueceram como fornecedores do exército, como mercadores do comércio marítimo ou como chefes de organizações bancárias. Esse pequeno grupo de empreendedores tinha por base a riqueza mobiliária (dinheiro e mercadorias, portanto riqueza móvel em oposição à riqueza imóvel da nobreza senatorial). A sua importância econômica era enorme e, pela fortuna de que dispunha, estava muito acima da massa plebéia empobrecida. Os membros dessa nova camada social ganharam o nome de cavaleiros.

A eles os censores contratavam para construir obras públicas e, nas províncias, o Estado passava a responsabilidade de cobrar impostos, chamando-se publicanos os cobradores de impostos. Alguns dos cavaleiros haviam conseguido elevar-se um degrau a mais na escala social, tornando-se homens novos (homines novi). Esse título era conferido aos cavaleiros que tivessem exercido cargos na alta magistratura e aos integrantes de suas famílias. Socialmente elevada, essa posição era, porém, inferior à da nobreza senatorial.

Os irmãos Graco

1. O poder aristocrático. A carreira normal de um nobre era denominada, em latim, cursos honorum (“carreira de honras”), e seguia uma ordem em que se sucediam os cargos de questor, edil, pretor e cônsul. Os filhos dos senadores, a quem era permitido acompanhar, de pé, as sessões do Senado, beneficiados pela solidariedade e proteção de classe, eram praticamente os únicos a terem acesso ao cursus honorum.
Um pequeno número de famílias nobres controlava a totalidade dos altos cargos, graças à sua vasta clientela e à compra de votos de eleitores nos comícios. Por meio dos edis (responsáveis pela organização dos jogos), patrocinavam atividades de lazer, ganhando com isso popularidade entre as massas, facilmente iludíveis com promessas demagógicas. Assim, garantiram apoio para suas ambições políticas.

2. A política aristocrática. A nobreza senatorial, a que dominava na República, era muito mais poderosa e ciosa de seus interesses do que a similar grega, jamais tendo feito qualquer concessão que comprometesse levemente seus privilégios políticos e econômicos. Além de conservar o governo integralmente em suas mãos, não cedeu um palmo sequer de suas propriedades em favor dos plebeus, cuja condição foi se degradando continuamente ao longo da República.

A partir da conquista da Itália e das Guerras Púnicas, a nobreza foi se tornando proprietária de extensões cada vez maiores de terras e aumentando continuamente o número de seus escravos. Enquanto isso, o exército incorporava, entre 200 e 167 a.C., cerca de 10% ou mais dos camponeses adultos, uma porcentagem extremamente elevada e só possibilitada pelas conquistas, que garantiam um número crescente de escravos para substituir a mão-de-obra camponesa.

Roma vivia um círculo vicioso, que beneficiava apenas a nobreza senatorial. As guerras de conquista proporcionavam terras, tributos e escravos, gerando recursos para equipar exércitos e financiar novas conquistas, que possibilitavam o confisco de mais terras e a obtenção de mais tributos e escravos.

Em 133 a.C., quando o rei de Pérgamo, Átalo III, legou em testamento o seu reino aos romanos, o sistema escravista estava firmemente instalado e, junto com ele, o inabalável poder da nobreza senatorial. Foi nesse momento que Roma viveu a sua última e mais importante experiência reformista, ao final fracassada.

3. A luta pela reforma; os irmãos Graco (133 - 121 a.C.). O ataque ao sistema aristocrático partiu de dois políticos que descendiam da mais alta nobreza romana Tibério e Caio Graco, os irmãos Graco.

A iniciativa partiu de Tibério, eleito tribuno da plebe em 133 a.C. Conhecedor da filosofia grega e admirador de Péricles, Tibério Graco ambicionava recriar a classe dos pequenos proprietários e, com essa finalidade, apresentou o projeto de uma lei agrária, que restabeleceria a prática de uma antiga lei. O projeto era bastante moderado e simples. Propunha a encampação das terras do Estado (ager publicus), indevidamente ocupadas pelos grandes proprietários e usadas para a criação de gado. A título de compensação, o projeto previa uma espécie de indenização a esses grandes proprietários, concedendo-lhes a posse de 125 hectares de terra, além de lotes suplementares de 62, 5 hectares por filho.

Apesar de moderado, o projeto dessa lei agrária foi violentamente rechaçado pela nobreza, que conseguiu eleger um dos seus representantes, Octavius, como tribuno, com a missão explícita de vetá-lo. Essa manobra dos nobres era perfeitamente legal. Tibério convenceu então a plebe a votar a deposição de Octavius e a aprovar seu projeto, o que era ilegal. Uma vez aprovada a lei agrária, foi nomeada uma comissão de três membros, composta por Tibério, seu irmão Caio e um cunhado seu, para executar o que a nova lei determinava.

Diante da ilegalidade do procedimento que levara à aprovação da lei e por ser contrário ao espírito da reforma de Tibério, o Senado recusou-se a autorizar os gastos necessários para a realização da reforma. Tibério voltou a desafiar os poderosos, promovendo uma assembléia tribal que votou um projeto pelo qual as despesas seriam cobertas pelo tesouro do rei Átalo III, de Pérgamo. Por último, quebrou a tradição ao tramar a sua reeleição como tribuno no ano seguinte. Com Tibério acusado pelos seus adversários de pretender tornar-se tirano, a eleição dos tribunos ocorreu num clima de grande turbulência. Decididos a impedir a qualquer custo a reeleição de Tibério, um grupo de senadores liderados por Cipião Nasica, um ex-cônsul e sumo sacerdote, invadiu com seus clientes o Capitólio, templo dedicado a Júpiter e situado na área central de Roma, onde se encontrava Tibério, que ali foi massacrado juntamente com os seus seguidores.

Se houvesse tido êxito, Tibério teria desempenhado em Roma um papel equivalente ao do tirano Pisístrato em Atenas. Mas a situação em Roma era outra. Os pequenos proprietários, arrancados de suas terras para servir ao exército, estavam ausentes, e os que residiam em suas terras encontravam-se dispersos. A plebe urbana, que teoricamente era o contingente a ser beneficiado pela lei agrária, já não manifestava interesse pela volta ao campo e ao trabalho, ociosa e corrompida que estava por sua transformação em clientela das grandes famílias. Na verdade, o projeto de Tibério era impraticável numa sociedade que havia assumido plenamente a feição escravista.

Não obstante, dez anos depois, em 123 a.C., Caio Graco foi eleito tribuno, com a intenção de continuar a obra de Tibério. Beneficiado por uma lei de 125 a. C ., que dava ao tribuno o direito de reeleição, Caio Graco tinha, em tese, condições para concluir o projeto do irmão.
Eleito, Caio Graco reapresentou e aplicou a lei agrária, conseguindo distribuir os lotes públicos notadamente em Cápua e Tarento.
Uma de suas iniciativas foi a distribuição de trigo a baixo preço. Para conseguir esse feito, que posteriormente teve grande importância, foi preciso reorganizar o comércio do cereal. O trigo consumido em Roma era trazido da Sicília, da Sardenha e da África. Devido aos especuladores e à suspensão do transporte marítimo no inverno, seu preço ao chegar em Roma era alto. Caio decidiu armazenar o cereal em silos após a colheita, o que regularizou e barateou seu fornecimento ao longo de todo o ano, beneficiando a plebe urbana.

Para garantir a apuração das irregularidades administrativas e a corrupção, Caio Graco possibilitou aos ricos homens de negócios (os cavaleiros) o acesso a cargos nos tribunais, ao lado dos senadores. Es tabeleceu na província da Ásia (ex-Pérgamo) uma nova forma de cobrança de impostos, que iria depois se generalizar: os tributos passaram a ser recolhidos, pelo prazo de cinco anos, por aquele que comprasse esse direito pelo lance mais alto. Os concorrentes na disputa dessa concessão eram os publicanos (arrendadores de impostos), que formavam em Roma uma verdadeira sociedade, com administração e cargos próprios. Esse sistema de cobrança de impostos já era adotado na Sicília, sobre o trigo. A sua adoção na Ásia e em outras províncias distantes teve, entretanto, efeitos nefastos, pois a ganância dos publicanos os levou a cobrar impostos extorsivos, cujo excedente embolsavam. Reeleito em 122 a.C., Caio tomou duas medidas polêmicas: fundou uma colônia em Cartago e propôs a concessão de cidadania romana a todos os aliados latinos da Itália. A reação da nobreza foi imediata. Ela acusou Caio Graco de sacrilégio por fazer renascer Cartago, uma cidade considerada “maldita”. A proposta de concessão de cidadania não foi menos problemática. Enquanto a nobreza temia perder o controle sobre as eleições, os próprios beneficiários da medida a viam com desconfiança. Os latinos ricos, por exemplo, tornando-se cidadãos romanos, ficavam sujeitos à lei agrária dos Gracos. Os pobres viam na concessão a desvantagem de passarem a ser recrutados pelo exército romano.

A nobreza romana aproveitou ainda para difundir entre a plebe urbana o comentário de que a concessão da cidadania proposta por Caio Graco implicaria, fatalmente, a divisão do trigo e dos lugares nos circos entre um número maior de pessoas, despertando, com isso, os mais baixos sentimentos de egoísmo nas massas.
Conduzidas com habilidade pelo Senado, as intrigas políticas surtiram efeito ao impedir uma nova reeleição de Caio Graco. No ano de 121 a.C., toda a legislação criada por ele foi anulada pelo novo tribuno. Em seguida, estourou uma desordem social e o Senado usou-a como pretexto para aprovar o senatus consultam ultimum (“último decreto”), que dava aos cônsules o poder de tomar as medidas necessárias para coibir a agitação. Caio Graco fugiu para o Aventino, onde reaglutinou as suas forças. Atacado pelo cônsul Opímio, Caio escapou, mas se fez matar por um escravo. Era ainda o ano de 121 a.C.

4. Mudanças políticas. Os irmãos Graco foram para os romanos a derradeira chance de encaminharem sua sociedade para a democracia. Mas as bases sociais para o êxito dessas reformas aquelas forças sociais que, na Grécia, se opuseram com sucesso ao egoísmo aristocrático estavam totalmente corroídas. Em Roma, a aliança entre plebeus ricos (cavaleiros) e plebeus pobres era impossível no final do século 11 a.C. A distância entre ambos havia se aprofundado de tal modo, que nenhum acordo podia ser efetivado. Temendo a massa popular miserável e corrompida pelo clientelismo, os cavaleiros aliaram-se à nobreza senatorial, fortalecendo a posição dessa última.
Os irmãos Graco, formados na cultura grega e inspirando-se em seu exemplo político, pretendiam transformar o tribunato na magistratura suprema do Estado e torná-lo indefinidamente renovável tal como se dera, em Atenas, com o cargo estratego, que Péricles ocupou seguidamente. O fracasso dos Graco selou o destino de Roma.